quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Trampolim

Imagine um trampolim, mas não um qualquer. Imagine um trampolim bem alto, que ao mesmo tempo desperte o medo e o desejo de desafiá-lo. Tem coragem de subir lá e pular de cabeça? Essa pergunta gera uma dúvida louca, não é? A vida é repleta de trampolins. Estou aqui, no primeiro degrau da escada que me leva ao topo de um. Sinto-me congelar de medo, mas a expectativa do pulo me consome a muito tempo. Vou pular.

Ao subir a escada longa e vertical, uma única lembrança vem à minha mente: a cena em que Sebastian, do filme “A História sem fim - 2” tem que superar o medo e pular de um trampolim na piscina de sua escola. Só assim ele teria força e coragem para enfrentar os perigos e conhecer o mundo de Fantasia.

Chego ao topo neste exato momento, posso ver, rente aos meus olhos, aquela passarela de onde em instantes pularei. Ela é branca e lisa, ao redor tudo me parece azul, o reflexo da água torna o momento ainda mais especial, é de fato mágico. Segurando com firmeza as barras da escada, ponho o meu pé direito sobre a prancha, ou passarela (como preferir). Está gelada. Caminho olhando fixamente para um ponto em frente. Sei que se olhar para os lados ou para baixo, posso desequilibrar e cair.

Voltar? Não sei se é possível, pode não ser seguro. O risco de subir já foi grande o suficiente, talvez voltar não seja uma opção válida. Força, coragem, vamos em frente. Estou na ponta, não sei porquê, mas já balanço a prancha como se fosse algo que eu já dominasse. Penso em tudo, tudo mesmo. Tudo. Continuo a balançar, em segundos darei o pulo. Um, dois, ...

O azul da água parece um céu, eu pareço voar , mas a direção é contaria. Subo ou desço? Prefiro nem pensar. Meus dois dedos no meio acabam de tocar na água.



Pára!



Tudo prece estar em uma velocidade infinitamente mais retardada que o normal, contudo minha cabeça pensa nas mais diversas coisas em velocidade inversamente proporcional. Minha família, meus amigos, meu amor, minha vida. Choro. Tudo isso vai ficar da superfície pra cima; e eu ficarei em milésimos de segundos em outra dimensão.

Passei. Não sinto dor, acho que o pulo foi dado corretamente, espero que o desconhecido me guarde surpresas boas. De baixo d'água olho para cima, vejo luz e mesmo com a água se misturando com minhas lágrimas vejo o trampolim lá do outro lado. Olho o quanto posso, mas não tenho muito tempo. Retorno em direção ao fundo da piscina, a velocidade já é normal, tudo é escuro, mas continuo nadando. Conhecerei a Fantasia que Sebastian conheceu? O que me espera? Não sei.

Só sei que pular de um trampolim é assim, arriscado. E quando se chega do outro lado, mesmo tendo muito o quê viver lá embaixo, sempre volto a olhar, cada vez mais de longe, para superfície. E uma coisa tenho em mente: Vou, mas volto.

4 comentários:

Andrei Bessa disse...

volta sim.... e se não conseguir voltar, tem gente pronta pra ir aí te pegar....

imagino como seja estar nesse mundo de fantasia... já dei alguns pulos, mas nunca fiquei tanto tempo (ou com a pretensão de ficar) debaixo dágua, no reino mágico, com outras leis....

agora, lembrei de nossa amiga Emília, a boneca sapeca... que foi ajudar o principe do mundo das águas e por pouco n voltou de lá ser oxigenio.....

tome cuidado também com o canto das serias, lá na Terra do Nunca esse canto tem o poder de deixar a pessoa sem saber se está com folego, sem ar

mas não deixe que nada, nada, disso te atrapalhe... pule, fique emergido no mundo da fantasia... apenas tome cuidado....

e se precisar, estou aqui pra ir te resgatar!!

Eu e minha sombra, que resgatei e amarrei em meus pés!!

=*

Renam Timbó. disse...

O trampolim é a melhor coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa. Ele chega e diz: -quem é você?

Adorei o texto. :D

Danilo Castro disse...

Hoje me encontrei com Raíssa e confessei a ela que não queria morar num prédio porque sinto vontade de pular. É uma força que me chama que é muito além da gravidade. Vontade de pular pra desfrutar o milésimo de tempo entre o pulo e a queda, que deve ser o mais perfeito desse possível momento. Um trampolim talvez seja minha salvação, porque até então minha covardia não me deixa pular dum precipício...

Walmick, cada linha do teu texto me levou pra dimensão do que tu escreveu, vi cada imagem como cenas de um filme, e olha que nem tenho a referência do filme que tu citou. Também fiquei tocado porque Tive um tio que era atleta em São Paulo, ele era campeão brasileiro de saltos ornamentais, depois te mostro as fotos dele.

E não tenha medo, pior do que a queda ou a distância entre o fundo das águas e a superfície, é ser frustrado por nunca ter conseguido pular. O pulo tu já deu, agora nada, nada com toda força que chegarás bem e mais forte.

Abraço!

Andrei Bessa disse...

pula... pula...

gosto de te ver no ar... flutuando!!

=-*


ps: eu e minha sombra continuamos a esperar um chamado de socorro!!
=-D