quinta-feira, 23 de abril de 2009

Argumento para um dia comum se tornar um filme “pseudamente” de arte


Temos dias e dias, isso é óbvio. Uns são mais especiais que os outros? Será? Isso depende da forma de como você os analisa, ou melhor, de como decide vivê-los. As vezes não é fácil tornar uma manhã cinzenta em algo agradável. Alguns considerariam impossível. Mas o que seriam dos dias, se não fossem como os filmes? Se encaixando em categorias distintas e agradando, ou não, diferentes tipos de espectadores. Então, vamos lá... vamos pensar em maneiras de transformar dias comuns em dias especiais. Dignos de um “cine de arte”?
Quem sabe até admirado e analisado em blogs dos tão renomados (e totalmente da moda) pseudo-intelectuais?

Créditos iniciais:
Bem... fotos antigas se entrecortando rapidamente com o amanhecer do sol visto de diferentes pontos da cidade. Lembre-se de usar tomadas rápidas, pra não entediar ninguém. Se bem que cine de arte pode entediar, né... você decide. Se possível use um filtro diferente para colorir e distinguir o início do dia (filme) do restante. Contudo não deixe passar a oportunidade de usar a mesma tonalidade em outros momentos, para gerar uma unidade. Sabe aquelas fotos? Se forem de família, comuns e cotidianas serão melhor ainda. Ouse com fotos da sua infância, cortes de cabelos e roupas fora de moda podem lhe render boas críticas.

Primeiras cenas:
Acordar com o despertador já virou um grande clichê, mas que tal arriscar? Só que dessa vez o olhar da câmera vem de dentro do relógio. Conseguimos ver os ponteiros se movendo, e mais adiante o dono da mão, que em instantes fará o silêncio se romper, dando inicio à uma trilha sonora 100% extra-diegética, enquanto todo o processo de despertar se desenrola. Neste estão inclusos planos como de escovar os dentes; preparar o café, e coá-lo com meias encardidas; passar geléia em uma torrada, que cái segundo os princípios da Lei de Murph; formigas correm ao redor do açúcar derramado sobre a mesa e outros mais.

Desenrolar:
Em um dia qualquer, como você chega à faculdade, ao trabalho ou qualquer outro lugar? De carro, transporte coletivo, bicicleta ou a pé? Seja qual for seu transporte, esqueça-o e busque no seu baú aqueles patins de quatro rodas antigos, com freios na parte da frente. Troque os cadaços velhos pelos de seu quase tão velho All Star e saia patinando pelas ruas. A princípio um pouco desengonçado, para conquistar o público, que produz um sorriso de canto de boca. E quando uma nova trilha se fizer presente, agora totalmente diegética, pois vem do seu mp4, surpreenda-os com uma capacidade incrível de patinar pelo transito, inclusive respeitando a sinalização. Se for do seu gosto, esse pode ser um bom momento para ousar com o filtro.

E se for assaltado? Hoje em dia é tudo tão perigoso, mas isso não é motivo para desespero. Encare o ladrão como um personagem que traz um ponto de giro para a sua história. Ele quebrou a lógica da sua rotina. O que fazer? Quebre a lógica do assalto; em vez de chorar, entrar em choque, gritar “pega ladrão!”, ou mesmo ir à delegacia fazer um B.O. corra atrás dele com seus “super-patins”, que nunca te deixaram na mão enquanto você corria, a alguns anos atrás, do rottweiler que uma visinha da sua mãe cria. Você ainda está se perguntando o porquê correr atrás do ladrão? Bem, certamente documentos, dez reais e algumas fotos 3x4 não são muito relevantes, uma vez que pra todos esses existem segundas chances, ou segundas vias. Temos que encontrar algo especial, único. Calma, deixa eu pensar...

Já sei! Uma carta de amor. É clichê, mas todo filme tem que falar disso, todo mundo já está cansado de saber, e se cansando de ver. Mas essa carta de amor é de amor verdadeiro. É a primeira carta de amor que você escreveu em toda vida. Escreveu em um momento de verdadeira embriaguez, e não tem uma cópia e nem conseguiria escrevê-la de novo. E não diga que poderia, pois posso fazer com que seu personagem esteja com a mão esquerda engessada, e você é canhoto lembra?

Vamos, deixe de conversa e corra atrás do ladrão! Estamos com pouco dinheiro no orçamento, de repente o filme se tornou um curta-metragem, e já estamos passando dos 10 minutos.

Isso! Em toda a velocidade que a câmera lenta lhe permitir! Sim, aqui vamos ralentar as imagens; este filme não é de ação. Uma música tocada por violinos e acordeons, instrumentos básicos para uma trilha de arte, conduzem o pique da perseguição. Mais uma vez o uso do filtro pode ser interessante. O ladrão está a poucos metros de você, que breca para respirar. Sorte sua, pois o caminhão de um musical que chega em sua cidade passa em alta velocidade e, ao mesmo tempo que interrompe a trilha sonora, atropela o ladrão com toda a violência possível. Não se preocupe, em filmes como o nosso, a violência é um elemento de surpresa, que chega ao ponto de ser tragicômico.

Pausa. Precisamos ver a sua cara perplexa diante do que acaba de acontecer.

O ladrão se foi, definitivamente, e com ele... a carta. E agora? O que fazer? Voltar todas as cenas de trás para frente, até um ponto e continuar por um caminho diferente? Não será preciso, olhe para o seu lado e veja que te pergunta, com um close nos lábios, que mastigam um chiclete: “Você está bem?”

A sua pessoa amada. Ele ou ela, e isso independe do seu sexo. Nosso tipo de filme também é aberto a isso, e como é!

Clímax:
Você, mergulhado na adrenalina de um só fôlego diz verdadeiramente e em alto e bom som tudo o que estava escrito na sua carta de amor. Palavra por palavra.

Conclusão:
Em contra partida uma grande bola de chiclete estoura entre vocês dois e logo em seguida a platéia delira com um demorado beijo de amor.

Créditos Finais:
Retomamos as idéias de fotos, mas agora com o sol ao entardescer. As imagens das fotografias podem ser do futuro dos personagens, quem sabe até do velório do ladrão. Do rottweiler ganhando um prêmio em uma competição canina. E claro os nomes dos membros da equipe técnica. Sem esquecer de no argumento e roteiro: Walmick Campos.

Obs.: Este filme pode tomar caminhos “errados” e se tornar uma comédia romântica. Tudo depende de você, a final... o dia é seu.
;p